Ano após ano, a notícia
impõe-se como uma fatalidade: a floresta é um tema incontornável, sempre e
somente, pelo seu lado trágico. E como em todas as tragédias, acompanhando o
período de nojo do seu impacto, segue-se o inevitável período de reflexão, ao
ritmo dos momentos de emoção que sempre albergam o subterfúgio das fragilidades
da condição humana…, uma reflexão, por isso, com prazos limitados de validade.
No ano transato, assim
foi, perante um verão já de si catastrófico para a floresta. O governo lançou o
debate, desafiando investigadores e instituições. Os investigadores da UTAD, conhecendo
o terreno como poucos, lançaram então o alerta: “a floresta portuguesa precisa
de uma revolução que ponha termo à inércia das entidades responsáveis pela
gestão e ordenamento do espaço florestal, mas com medidas alicerçadas num
conhecimento técnico-científico”.
Logo, há que mandar
para o terreno engenheiros florestais. O país precisa deles. Paradoxalmente, os
cursos de engenheiros florestais estão a desaparecer no ensino superior,
resistindo apenas numa ou duas instituições comprometidas com uma missão
estratégica de revitalização das regiões do interior. Os seus jovens
engenheiros estão dotados de uma formação avançada que lhes permite intervir
nos projetos de ordenamento e povoamento florestal, na proteção da floresta
contra os incêndios, na aplicação do conceito de sustentabilidade na prática
florestal. São profissionais que sabem bem como cresce a floresta e como reage
perante condições normais e condições adversas. Sabem como ninguém onde,
quando, porquê, como e o quê deve nela ser plantado.
Impõe-se, por isso,
tornar apetecível a missão de engenheiro florestal. Mas também tornar
apetecível trabalhar nas regiões do interior. Começa a ser tempo de pedir
contas, ou respostas objetivas, a uma tal Unidade de Missão para o Interior,
criada pelo atual governo e da qual se esperam intervenções claras que atraiam
gente e atividades para o mundo rural, quebrando a sangria de recursos para o
litoral. E nunca esquecendo que a floresta em Portugal ocupa ainda uma posição
ímpar no contexto europeu. Representa cerca de 2% do PIB e em Valor
Acrescentado Bruto nacional aproxima-se dos 4 milhares de milhões de euros,
além de envolver quase 100 mil postos de trabalho diretos e remunerar cerca de
400 mil proprietários.
Já é tempo, pois, de a floresta passar a ser notícia
não como um mundo de problemas mas como um mundo de oportunidades.
(ap)