sexta-feira, 28 de abril de 2017

Narradores das memórias do Douro, bibliotecas que se vão fechando…



Muitos deles partiram já, mas ainda a tempo de me fazerem herdeiro de boa parte do seu património. Outros, e já são poucos, mantêm-se como tesouros vivos da memória coletiva do Douro. Por eles vou ao país profundo, aos centros de dia, aos lares de 3ª idade. Com eles recolho memórias e sopro acendalhas para que se faça um pouco mais de luz no entardecer das suas vidas. Mas até quando?

Há uma cultura imaterial, identitária, de valor incalculável que se está perdendo no Douro. Perde-se com o desaparecimento destes narradores. E que fazem as instituições responsáveis pela cultura? Nada.

O rio Douro continua a atrair milhões em cifrões. Mas vemo-los ir rio abaixo e nada ou quase nada fica. Em termos culturais, mesmo nada. Quando se esgotar a torneira dos fundos comunitários, cá estaremos para o confirmar. A cultura que se vê programar está voltada para os grandes eventos, de dimensão ilusória alguns, mas que consomem rios de dinheiro. São geralmente efémeros, e deles nem sequer é possível monitorar os efeitos reais que produzem, e muito menos em termos de sustentabilidade económica. Valem pela agitação que provocam, por vezes apenas alguma agitação mediática, e pela congregação de interesses que mobilizam, mas esgotam-se na sua própria efemeridade. São um bluff e pouco mais.