Muitos deles partiram já, mas ainda a tempo de me fazerem herdeiro de
boa parte do seu património. Outros, e já são poucos, mantêm-se como tesouros
vivos da memória coletiva do Douro. Por eles vou ao país profundo, aos centros
de dia, aos lares de 3ª idade. Com eles recolho memórias e sopro acendalhas
para que se faça um pouco mais de luz no entardecer das suas vidas. Mas até
quando?
Há uma cultura imaterial, identitária, de valor incalculável que se
está perdendo no Douro. Perde-se com o desaparecimento destes narradores. E que
fazem as instituições responsáveis pela cultura? Nada.
O rio Douro continua a atrair milhões em cifrões. Mas vemo-los ir rio
abaixo e nada ou quase nada fica. Em termos culturais, mesmo nada. Quando se
esgotar a torneira dos fundos comunitários, cá estaremos para o confirmar. A
cultura que se vê programar está voltada para os grandes eventos, de dimensão
ilusória alguns, mas que consomem rios de dinheiro. São geralmente efémeros, e deles
nem sequer é possível monitorar os efeitos reais que produzem, e muito menos em
termos de sustentabilidade económica. Valem pela agitação que provocam, por
vezes apenas alguma agitação mediática, e pela congregação de interesses que
mobilizam, mas esgotam-se na sua própria efemeridade. São um bluff e pouco
mais.