«Num tempo em que toda a máquina mediática está voltada para os carnavais
das grandes urbes, espelho de uma miscenização civilizacional imposta por
outros carnavais do mundo, especialmente do Brasil, quase já só podemos
encontrar manifestações diferenciadoras nos rituais de entrudo dos meios
rurais, que continuam a assumir uma vertente identitária profunda. No
nordeste transmontano, por exemplo, continuam a ritualizar-se as expressões
mais originais do entrudo em Portugal, seja pela prática dos julgamentos
públicos, queimas do entrudo, leitura de testamentos, pulhas e contratos de
casamento (em Santulhão, Espinhoso, Paradinha Nova, Pinela, Carrazedo…), seja
pelos desfiles de matrafonas e caretos (Podence, Ousilhão,
Baçal, Varge, Vilas Boas, Salsas…) que personificam seres sobrenaturais,
herdeiros dos deuses diabólicos venerados na Roma antiga.
(...) »
Artigo do Jornal de Notícias de hoje, 25-2-2017